Hoje tive o grande prazer de tomar um cafezinho com bolo de cenoura com minha colega de trabalho. O assunto: desigualdade social.Ok, até aí nada de novo. Mas, não foi um bate-papo cheio de modismos “socialistas”ou piedades solidárias. Pelo contrário, fomos direto ao ponto.
Minha amiga tem uma história legal. Filha de empregada doméstica abandonada pelo marido, conseguiu se formar e está muitos anos luz à frente das “patricinhas made in colégio Rio Branco com intercâmbio nos States” que fazem trabalho voluntário na ONG do titio.
Eu, burguesinho metido a socialista (foi como me senti), não poderia descrever um ponto de vista tão “sulfuroso” como o dela.
Apesar de ter uma história digna daqueles quadros sensacionalistas do Gugu, a “menina- filha- da- empregada- doméstica- que- está –vencendo- na- vida”odeia este blá-blá-blá piedoso.
Nosso papo passeou por várias coisas, mas o que mais marcou foi nossa análise sobre o quanto as “gatinhas e gatinhos do circuito Jardins-Morumbi” têm uma imagem TOTALMENTE distorcida da realidade. Consegui me ver em diversos momentos, mas percebi que tenho avançado bastante neste discurso hipócrita e sem fundamento do responsável socialmente ou do “eu tenho, mas não exploro”.
É difífil perceber, mas frases como “Só tinha povo feio”, “Cuidado com este povo”, “Nossa, fecha o vidro!” carregam em si algo ainda pior que o apartheid declarado da África do Sul.
Ainda não conseguimos aceitar nosso povo. Ainda acreditamos que o povo que queremos ser está lá longe, na Europa, lindo e branco.
Pelo amor de Deus, enquanto quisermos “embranquecer”nossa pele, alisar nossos cabelos, votar no intelectual com MBA nos EUA e coisas do tipo, só aumentaremos nossos problemas.
Embora eu discorde muito com este tipo de atitude, confesso que minha indignação tem sido deixada de lado. Não me revolto tanto mais. Ouço, fico calado e olho torto.
Talvez porque não sei com que armas lutar. Talvez porque sou conformado mesmo. Talvez porque tenho medo de me enxergar neste povo mesquinho, hipócrita e segregador da nossa classe média.
Enfim, reflexões sulfurosas!
P.S.: Lembrei muito do livro do Darcy Ribeiro, Povo Brasileiro. Ele conseguiu explicar “sociologicamente”este meu sentimento confuso. Vale ler!
Só passei para dizer que amei o nosso papinho também, além de também sair com algo mais na cabeça...
ResponderExcluirSomos o que somos, porque fazemos escolhas.
Um grande beijo dessa garota que te adora e se orgulha por você ser o que é!