segunda-feira, janeiro 11, 2010

Casamento à brasileira

Começo o ano bastante otimista. Apesar de algumas incertezas, sinto coisas boas chegando por aí.
Neste primeiro post de 2010, algumas reflexões sobre minha união com Eden e como tem sido a experiência de aceitar e ser aceito.


Acabamos de dar um entrevista para o SBT sobre o contrato de união homoafetiva que assinamos no início de novembro. Na época que decidimos tornar pública nossa união, confesso que não chegamos a travar grandes debates sobre o assunto (apesar das relfexões serem constantes em nosso relacionamento).
A entrevista fez com que discutíssimos um pouco mais sobre o assunto. O fato é que, apesar de não ser realmente necessária, a assinatura do contrato é essencial por alguns motivos:
1.
Assim como todo casal, somos cidadãos e temos o direito de ter nossa relação tratada com igualdade em todos os âmbitos institucionais. Ou seja, se precisarmos tomar decisões um pelo outro em hospitais, cartórios, tribunais etc, não podemos ou queremos ver nossos direitos ameaçados por possíveis preconceitos;

2.
Tornar pública nossa união, reforça a necessidade de todos os casais homossexuais afirmarem suas escolhas, deixando de viver pela metade. Ou seja, muitos casais vivem juntos apenas dentro de quatro paredes e ainda continuam sendo solteiros na vida pública.

3.
Assim como os casais heterossexuais, também temos a necessidade de celebrar o amor e deixar claro para todos que nossa relação é igual a qualquer outra.

Outro dia minha sobrinha de oito anos perguntou se eu era casado com o Tio Eden. Confesso que dei uma titubeada para responder, mas em seguida esclareci que sim.
Obviamente a pergunta seguinte foi pautada pelo o que ela vê e assiste todos os dias: “Mas quem é a noiva?”. Expliquei que não tinha noiva e que íamos em breve fazer uma cerimônia de “casamento”. Ela ficou empolgada para saber como vai ser. Eu também estou. :)
Ela e nossas outras sobrinhas convivem conosco há muito tempo e nunca questionaram nosso amor. Pelos olhos de uma criança, percebe-se que qualquer tipo de preconceito e distinção é criado pelos homens com sua incrível capacidade de ser intolerante.
Há quem diga que a união é contra os princípios de um deus qualquer. Não sei como este deus surgiu, mas acho difícil ele ser o mesmo que o meu. O meu Deus, franco e sincero, aceita todo tipo de amor e não distingue nenhum ser. Regras e verdades absolutas são feitas por homens fracos e pequenos que não conseguem aceitar que a felicidade está muito perto de você, basta você olhar para si com seus próprios olhos, sem tomar emprestado visões criadas com interesses alheios.
Como sonhador que sou, espero em breve não precisar dar entrevistas sobre este assunto. No mundo que viverei, a sexualidade não será pauta de jornal ou debate em mesa de bar. Falaremos de assuntos mais interessantes como a necessidade de cuidar da natureza ou ensinar nosso filhos a amar, sem julgar.
Um bom ano a todos!


Namastê!

P.S.: O título do post foi inspirado no nome de um filme do qual tivemos o prazer de conhecer o diretor e o principal personagem: Casamento à Espanhola (Campillo, sí quiero). É um documentário maravilhoso sobre um povoado ao redor de Madrid que se tornou conhecido por celebrar casamentos gays. O prefeito é gay e venceu as barreiras do preconceito se casando em um povoado tradicional e católico. Vale a pena ver!