quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Madalena, Madalena, onde está nosso carnaval?


Passei os dias de carnaval em São João da Boa Vista e Poços de Caldas, minha cidade natal. Confesso que nunca fui muito fã da festa e há anos não caio na folia com a “garra e a vontade” de um “guerreiro” (para usar a expressão dos gosmentos do Chiclete com Banana), mas resolvi dar uma passadinha pelos eventos promovidos pela Prefeitura em Poços.

Bem, a programação para os idosos e casados-com-crianças até que estava legal. Montaram um palco com marchinhas atrás do Palace Hotel, que animou a noite de meus avós e minhas sobrinhas. Na segunda durante o dia, fiquei aliviado de saber que o tradicional desfile de fantasias de papel continuava vivo no Country Club. É um concurso de fantasias na piscina, as pessoas desfilam e depois caem na água, desmanchando toda a alegoria.

Depois de pular um pouquinho e ficar animadinho com algumas cervejas, resolvemos arriscar nossa noite no “corredor da folia”.

O que foi aquilo? Juro que me senti no meio de um baile funk (falido) do Rio de Janeiro. Nunca estive em um, mas posso afirmar com toda certeza do universo que o que eu ouvi e vi não era carnaval nem aqui, nem na China. Aliás, nem um chinês que tenha vivido isolado em alguma montanha por toda sua vida acreditaria se alguém dissesse que aquilo é carnaval.

Não encontrei nenhuma pessoa fantasiada, não tinha nenhum confete ou serpentina para brincarmos, todos estavam vestidos com camisetas de times de futebol ou algum traje de hip-hop e, para piorar, o DJ só tocava funk.

Fiquei triste! Quando eu era adolescente, passava os dias de carnaval perambulando pelas ruas de Poços. Primeiro, o que nos movia era o momento de liberdade que tínhamos para azucrinar todos com bexigas cheias de água e guerras de ovos entre as turmas de colégios e ruas. Ok, as guerras de ovos seriam um absurdo nos dias de hoje, mas a rivalidade pacífica entre os moleques tornava nossa cidade mais aconchegante e unida.

Com o passar dos anos, o dinheiro dos ovos mudou de destino e financiava as caixas de cerveja e tubos de “universitário” guardados com antecedência em nosso QG na Rua São Paulo. Daquele apartamento “abandonado” pelo meu pai, saíamos já “descontraídos” e menos tímidos para pular a valer ao som das marchinhas no Bar do Gigi ou no Capitão Grill. O mais industrializados dos sons não chegava nem perto da falta de qualidade do que ouvi neste carnaval.

A noite terminava nos bailes da Caldense ou no Palace Cassino, com muita marchinha, fantasias e descontração.

Os anos se passaram (não foram tantos assim!), a festa que tomava conta das ruas foi proibida por gestões hipócritas e conservadoras em nossa cidade. A proibição e a necessidade de controlar o incontrolável, deram espaço para um carnaval fajuto, sem essência ou espontaneidade.

O mais triste desta história foi saber que a secretária de Turismo, Tereza Navarro, também pulou carnaval com nossa turma, antes de se render à politicagem barata e retrógada dos velhos coróneis que acabaram com todo o charme de Poços de Caldas.

Não vivo lá há mais de dez anos, mas visito a cidade quase mensalmente. A cada visita, fico mais decepcionado ao perceber que a necessidade de status de poucos deixou com que a magia das praças, dos balneários e do povo acolhedor morresse, dando espaço para um crescimento urbano desordenado. A cultura da cidade, famosa por receber intelectuais, está sendo contaminada por lixos culturais consumidos por uma juventude sem formação, orientação ou perspectiva de futuro.

O final desta história já conhecemos bem das favelas e periferias das grandes cidades. Talvez seja o momento de se pensar em fazer um carnaval de fato e não apenas montar palcos imensos olhando com sede para os votos da próxima eleição.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Mídias sociais: amigas ou vilãs?

Geralmente deixo este espaço para dividir opiniões e acontecimentos pessoais, mas hoje resolvi avançar meus dedinhos para um assunto profissional.

Tenho tido a oportunidade de ler muito sobre comunicação, mas desta vez sem o olhar viciado que costumamos ter quando estamos em uma corporação ou agência.

Algumas questões têm me intrigado bastante quando vejo que 9 de cada 10 posts ou tweets sobre inovação ou estratégia de comunicação tratam do “fenômeno” das mídias sociais.

Todos os “experts” em comunicação bradam aos ventos que estamos vivendo um momento ímpar na comunicação e que praticamente todas as práticas “tradicionais” já estão defasadas e morrerão no próximo raiar do sol.

Bom, não sou um crítico das novas tecnologias (tenho perfis e um blog) e reconheço a mudança no mercado de comunicação. Entretanto, costumo jogar baldes de água fria quando estou em bate papos que caminham em uma única direção, colocando em um altar as mídias sociais, sem levar em consideração os espinhos deste novo momento.

Sei que praticamente todos os meus amigos possuem um perfil no Facebook, no Orkut e no Twitter (até meu pai me deu uma bronca pelo Facebook outro dia), porém meu questionamento vai pela diagonal e trata do conteúdo que estamos compartilhando, lendo e replicando. Existe realmente a tal liberdade de expressão tão esperada e criada pela Internet? Esta obesidade de informação está deixando espaço para nos tornarmos mais críticos e evoluir em pontos que realmente farão diferença no mundo?
Está havendo a democratização de opiniões de fato ou estamos falando com pessoas que pensam da mesma forma que nós, sem dar espaço para o debate produtivo e construtivo?

Quando vejo que a maioria dos conteúdos replicados se restringe a comentários sobre o último paredão do BBB ou um “vídeo sensacional” com uma travesti sendo discriminada, começo a ter dúvidas sobre o “milagre” das redes sociais e sua capacidade de dar voz além dos “tradicionais” meios de comunicação.

Outro fato que me intriga é a proibição de acesso às redes sociais dentro das corporações. Em um artigo recente publicado pela The Economist e analisado por Cristina Mello no Nós da Comunicação, percebe-se que ainda não utilizamos as mídias sociais em prol de nossas atividades. As empresas ainda não permitem o acesso e não estão confortáveis em liberar seus funcionários para twittar, blogar ou acompanhar o Facebook enquanto exercem suas atividades profissionais.

As razões sobre a proibição tratam da segurança da informação e também da produtividade. Um dilema que tem sido colocado embaixo do tapete pelos gestores, mas precisa urgentemente de definições. Sugestões sobre como lidar com esta questão no mundo corporativo têm surgido, como a criacão de políticas de uso de redes sociais dentro das corporações, mas sinto que o passo está lento demais para acompanhar a invasão dos smartphones e a necessidade que todos temos de estar conectados 24 horas por dia.

O fato é que, na minha percepção, o assunto vai além de apenas liberar o uso no horário de expediente. A utilização das mídias sociais com livre expressão dentro das empresas passa por outros campos, muita vezes minados, que poderão mostrar que o selo de “Melhor Empresa para se Trabalhar” pode ter sido a opinião de alguns, revelando lacunas nas políticas de gestão de pessoas. Talvez, antes de abrir a caixa de Pandora nas redes sociais, precisamos rever o discurso e a prática na gestão de pessoas. E, antes de tudo, entender como estas redes podem agregar e não segregar.