Sempre achei muito interessante os diferentes rumos de nosso olhar quando estamos "ensardinhados" em um carro ou dentro de um ônibus ou enterrados no metrô ou respirando a pé ou chacolhando no trem ou trotando na carroça.
Perceber o valor do instante que cada meio de transporte nos oferece acaba se tornando um prazer. Ultimamente tenho andado bastante de ônibus e trem aqui em Monstrópolis.
Parece loucura, mas aprendi a gostar e saborear cada viagem. Além de ser um exercício para paciência, é um ótimo momento para se entender um pouco da dinâmica da cidade.
Quando estou no carro, tudo passa muito rápido por minha janela. Não dá tempo para entender os momentos. Fico apreensivo, com medo de quem se aproxima e com vontade de pular fora logo. No ônibus não. Tenho que esperar a parada em cada ponto e cruzar olhares com os mais diversos tipos de pessoas.
É uma convivência harmônica que reúne estranhos dentro de uma mesma situação. Ali, não importa se você está de gravata, chinelo ou pelado. Estamos todos indo, e temos que dividir aquele espaço.
Às vezes imagino como as cidades seriam melhores se em algum momento do dia as pessoas se tornassem iguais. Esta situação, de alguma forma, permitiria que aquela pitada de humildade, essencial para o crescimento do indíviduo, acontecesse naturalmente.´
É claro que existem os momentos para lá de estressantes (como esperar meia hora em plena sexta-feira à noite, um ônibus que parece ter saído de um atentado terrorista !), mas o bate-papo com uma senhora indo "passear" de ônibus vale a semana!
Para não perder o costume, lá vai mais uma indicação de filme: Babel.
Uma película fascinante, que traduz um momento sem certezas como o que vivemos! (será que sempre foi assim ou eu estou sentindo isso agora?)
Bebam Bruna Beber (poeta fascinante autora de "a fila sem fim dos demônios descontentes")
"Av.
calem-se buzinas
e pessoas com problemas
que problema todo mundo tem
prefiro não sabê-los
prefiro não saber do que sempre reclamam
os automóveis."
Inté!
Eita...lindo texto hã?! Eu sempre quis que essa cidade tivesse um sistema de transporte abrangente o bastante, para que eu pudesse deixar meu carro na garagem, economizar gasolina, poluir menos o mundo e pudesse apreciar os olhares perdidos de todos que estão lá...no mesmo vagão.
ResponderExcluirFabrizio
Eto, querido sulforoso, não há como não usar um jargão para falar isso, então lá vai: quando li esse seu post, fui me reconhecendo a cada frase. Essa alienígena sensação de gostar de andar de ônibus (coletivos em geral) que você está experimentando agora, eu conheci no colégio. Indo estudar à noite em outra cidade, eu tinha até meu assento favorito (o atrás do alto). As noites de chuva, então, era poesia através da janela riscada do ônibus. Os comentários entre as pessoas, as opiniões, as berrantes diferenças maravilhosas. Houve um tempo em que comecei a escrever, todo dia, sobre alguma coisa que eu tinha visto, ouvido, percebido durante o trajeto. O projeto não seguiu em frente, as idéias e sensações fervilhavam rápidas demais para codificarem-se em letras e parágrafos. Não conseguia transmitir o meu [i] encantamento [/i] e isso me frustrava. Hoje tento pensar que algumas coisas são exatamente para serem assim, ficarem guardadas de um jeitinho exclusivo e todo especial. No começo eu também achava estranho falar que eu gostava de andar no ônibus, mas hoje tão abusada, confesso que só de lembrar daquelas noites, sinto um arrepio no peito. Sim, uma prazerosa e aterrorizante sensação de saudade. A Vanessa de hoje cresceu muito dentro de um ônibus.
ResponderExcluirFico feliz de isso estar acontecendo com você também.
Grande Beijo
Vanessa