quarta-feira, setembro 23, 2009

Aprendizados


D. Lucília, italianinha inteligente de Caldas, não imaginava que no meio do caminho para as Campininhas encontraria Adolfo. Naqueles tempos de guerra, mesmo do outro lado do mundo, era sempre bom desconfiar destes alemães.

O encontro virou casamento e em seguida vieram os filhos: Olga, a altiva; Alberto, o estudioso; Celia, a cuidadora; Lolo, o galenteador; Zeca, o companheiro e Luiz, o que estava sempre rodando por aí.

Quando moleque, Luiz gostava de estar perto do pai, conhecendo pessoas e sempre perguntando as coisas. Nestas de perguntar, aprendeu muito. Também gostava de suas farras. Quando encontrava o primo Jair, até em porões eles se enfiavam para ouvir os casais se engraçando na intimidade de seus quartos.

Com Jair ele começou a tomar algumas cachaças. Mas não podia ser poucas não. O negócio era beber bastante para perder a vergonha e dançar pra valer com as meninas nos bailes das fazendas perto de onde moravam.

Das Campininhas, Lucilia e Adolfo se enverederam para os lados do Rio Pardo, lá pela Serra do Selado.

Luiz já completava seus 21 quando encontrou Ivanilda, filha do Nezinho, dono das terras por aquelas bandas. Os olhos cor de mel combinaram com os seus, azuis como céu em dia de inverno.

O galenteio do Zinho, apelido que a Vanirda deu pra ele, conquistou a moça que logo aceitou juntar seu trapos com o Alemão.

O casamento aconteceu, mesmo com o bico do Seu Nezinho. E agora, ficar cuidando da venda perto do sogro estava meio chato.
- Disseram que lá pras bandas do Mato Grosso o negócio anda bão, disse o primo Jair um dia.
Juntaram os trapos e lá se foram para a aventura. Naquele fim de mundo tiveram até que dormir embaixo de árvore.

Não precisou de nenhum mestre em negócios para dizer para o casal que montar uma venda na beira da estrada ia dar certo.
Não tinha dia ou noite para os dois. Se chegava uma caravana de boiadeiros, lá ia dona Ivanilda fazer comida e o Seu Luiz vender cerveja gelada e cachaça. A conta ficava alta, mas para os tropeiros quanto mais alta, melhor.

Em Maracajú, Graucia (minha mãe) e Donizetti nasceram. Luiz tentou plantar coisas e entrar no ramo da agricultura, mas seu negócio na época era o balcão mesmo.

Em uma de suas andanças para Campo Grande, Graucia ainda com 3 anos fez questão de ir com ele pra vender umas sacas de alguma coisa (batata acho). Voltaram na boleia de um caminhão. Uma aventura que Luiz se lembra até hoje.

A saudade das Minas Gerais foi grande. A família, agora maior, voltou. Na Rua Santos Dumont tiveram um empório, onde Luiz Henrique nasceu. De lá, voltaram para a venda do Selado, quando Renata chegou. Da cachaça ficou só o cheiro, que Luiz gosta de apreciar cheirando um trago de vez em quando, mas só cheirando hein?

As coisas iam bem e Luizinho começou a fazer carretos de lenha pra cidade. O negócio de lenha deu certo, até que surgiu a oportunidade de comprar umas terrinhas, estas que estamos agora. O velho Adolfo foi contra, achou muito caro. Luiz, teimoso, apostou.

O eucalipto surgiu como oportunidade. Com muito trabalho, determinação e esforço, o negócio deu certo. E continua até hoje.

A família não pára de crescer. Cada um carrega em si um pouquinho do Seu Luiz.

Nesta história, todos que um dia conhecem este grande homem, aprendem muito. Parabéns pelos seus 80 anos vô, pai, tio, Seu Luiz Schultz. Obrigado por todos os seus ensinamentos. Não seríamos o que somos sem o senhor ao nosso lado.


* Este texto foi escrito e lido por mim durante o aniversário de 80 anos de meu querido avô Luiz. Muita emoção e alegria de ter este grande homem como mestre!

Um comentário:

  1. É tão lindo honrar o passado... Obrigado por ser exemplo para mim. S2

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